sexta-feira, abril 07, 2006

Memória das nuvens

Nuvens que passam e voltam. Que chocam entre si e entre si disparatam. Viajantes. Livres, leves, viajam pelo mundo em busca de algo que não sei. Fundem-se, sem que notemos. Dissipam-se. Sem que delas nos apercebamos. Quantas memórias guardareis!!! Memórias de gentes, de povos, de culturas, de gerações. Quão sábias sois! E ninguém o sabe (ou nunca se interessou por sabê-lo).
Desceis à terra de quando em vez, para nos sentires, a nós humanos, e para que nós vos sintamos. Vigiais estes seres que se crêem o motor de tudo quanto existe. A vós confidenciamos os mais íntimos segredos, sem que o saibamos. Não vos notamos... Sois o mais perfeito confidente. Conto-vos os meus segredos com a certeza de que não me denunciareis. A vós, nuvens, assim como ao céu, à chuva, às flores e à terra do jardim ou da praia (não importa!), aos relâmpagos (afinal, os vossos bramidos) e ao fogo da lareira que no inverno me aquece. Sois filhos da Mãe-Natureza. Sois inocentes, embora vos revolteis também! Faz parte.
Gostaria de me juntar a vós um dia. Percorrer o mundo. Sem pressas! Voar numa alcofa tão aconchegante como deve ser a vossa, flutuar no peito refrescante e leve das águas...

Memória das nuvens... guardai a minha - para SEMPRE. Não vos esqueceis de mim e do que guardo nesta coisa que chamam memória e que dizem estar enclausurada nesta capa de osso ou tendão ou seja lá o que for e a que chamam crânio. Guardai. Enquanto esta coisa que sou eu existir não sereis esquecidas. Porque gosto de vos olhar. Gosto de vos sentir. De sentir as vossas carícias e de vos contar segredos e desabafar e sentir o vosso conforto quando dele necessito.
Denuncio-vos? Não vos preocupeis. Ninguém vai acreditar. Ninguém vai crer que vos falo e vos conto segredos e que em vós confio. No máximo vão chamar-me louca.

Louca seja!